3 junho

Masturbação Masculina Saudável – O que não te contaram

Sobre o punho de ferro e outras questões.

Texto para pessoas que tem ou lidam com Pênis.
Só a palavra masturbação já é motivo para polêmica na nossa sociedade. O ato então, pouco ou nada se fala, sendo até pauta de regras religiosas e a afins. A ideia deste texto é trazer informações à luz da sexologia e psicologia a fim de informar e tornar essa prática saudável de forma que não prejudique ou distorça a sua vida sexual bem como a do seu parceiro (caso você não tenha um pênis).

Todo mundo deve se masturbar?

Dentro da minha prática clínica a masturbação não é considerada errada ou lesiva, pelo contrário, dentro dos padrões saudáveis contribui para o autoconhecimento e desenvolvimento da sexualidade. Porém, a prática clínica deve sempre se adaptar ao paciente e por conta disso se na sua concepção pessoal, ou até na sua escolha religiosa, esse tipo de questão não é aceitável está tudo bem. É super possível se desenvolver de outras formas dentro da sua realidade. Compreenda, nem tudo é para todo mundo, principalmente em se tratando de limites pessoais.

Aspectos emocionais

Como dito acima, quando não há impeditivos físicos ou emocionais para a prática da masturbação, esta pode ser uma aliada ao desenvolvimento sadio de uma sexualidade saudável. Isso serve para qualquer pessoa, principalmente mulheres.

Digo principalmente mulheres, pois o estímulo a masturbação é muito mais velado e até negado às pessoas ditas do sexo feminino em comparação ao masculino.

O estímulo a sexualização masculina chega a ser exagerada, tudo isso por conta do contexto sociocultural em que o sexo ocupa nas nossas vidas, a trajetória do sexo que envolve machismo, jogos de poder e controle de massas que não cabe discutirmos aqui.

O excesso de masturbação

Acontece que esse excesso de estímulo a sexualização masculina não é saudável para ninguém. Produz homens ansiosos por uma “performance” sexual muitas vezes inatingíveis e mulheres perdidas sem saber quem são elas na fila do sexo. E em relação a masturbação não é diferente. Masturbar-se demais e/ou da forma errada pode causar muitos danos à saúde sexual do homem.

O excesso pode produzir desde ansiedade generalizada, pois o cérebro pode passar viciar na descarga hormonal daquele ato e passar a solicitar em grande escala. A pessoa se vê refém de masturbação, tendo até que parar atividades importantes para se satisfazer. Apesar das pesquisas científicas ainda não terem chegado a um limiar saudável de repetições masturbatórias, a maioria delas concorda (inclusive eu em minha humilde prática de consultório) em um limiar pessoal que varia entre um dia sim um dia não, que para cada pessoa varia para mais ou para menos.

  • Antes de arrancar os cabelos querendo se enquadrar nas médias da ciência, seu primeiro sinal de alerta deve ser a observação.
  • Te prejudica de alguma forma?
  • Você deixa de fazer atividades por conta de uma necessidade sem gatilho (ninguém te excitou, não recebeu nenhum estímulo visual ou sensorial)?
  • Após o ato você se sente mal?
  • A frequência te agrada?

Tenha em mente: sexo é um campo extremamente individualizado. Tentar caber em parâmetros pode ser adoecedor.

Forma errada de se masturbar

Combinado ou não com a frequência errada, um outro risco no excesso da masturbação é a forma que esse indivíduo “treina” o seu pênis. Existe um termo chamado “Punho de Ferro” que não é nada científico, porém utilizado para explicar a respeito da pessoa que utiliza tanta força na mão para se masturbar, que em um encontro sexual não consegue satisfação com penetração vaginal, anal, oral etc. Essa pessoa fica “refém” da sua própria mão e todo ato sexual termina em um solo, mesmo que na presença de parceria.

O ideal masturbatório para não virar um “punho de ferro” é conter a força do apertão e evitar estimular a glande (a parte de cima, a cabeça) com a mão.

O princípio ativo é fazer o máximo para imitar ou até fazer uma versão piorada de uma vagina ou anus. O uso de camisinha, gel lubrificante também contribuem para que não ocorra uma sensibilização errada.

Fator de excitação

Outra questão da masturbação é o que a pessoa utiliza para se ter desejo sexual. O mais comum é o uso da pornografia. Não vou condenar o uso da pornografia, mas vou alertar que, como em qualquer excesso, pode prejudicar o ciclo de resposta sexual de forma bastante significativa. Resumidamente: a sua mente pode passar a se excitar apenas com estímulos idênticos ou próximos ao dos filmes ou outros métodos que você utilizar, tornando mais difícil (e em alguns casos impossível) a excitação com um corpo ou situação real. Afinal, filme não é vida real, principalmente pornografia. Neste caso a vida não consegue imitar a arte, nem de longe.

O que fazer então? O cenário ideal é utilizar a imaginação, pensar em pessoas reais, situações que lhe ocorreram dentre outras. Veja, falo em um excesso.

Estímulos diferentes como contos eróticos e até filmes próximos a realidade podem ajudar sim como inspiração para a vida sexual, mas jamais servirem de alvo, de expectativa que a vida seja da mesma forma.

Tratamento

Quanto para pessoas que adquiriram uma frequência errada, tanto para o “punho de ferro” existem tratamentos adequados disponíveis no mercado. Como é um estado amplo e individual o tratamento também é. O que geralmente ocorre no meu consultório é o tratamento multidisciplinar que pode contar com: psicólogo sexólogo (a minha especialidade), médico urologista, endocrinologista, nutrólogo, fisioterapeuta pélvico, dentre outros que o paciente necessitar.

Destaque para o trabalho psicológico que é fundamental nessa questão pois a área sexual é diretamente interligada à área emocional no geral. O que acontece em uma área afeta a outra podendo inclusive trazer questões físicas através de somatizações.

Fidelidade

Brinco com meus pacientes que o pênis é muito fiel à mente. Uma brincadeira muito real. Se você alimentar ele com estímulos errados, ele não vai responder da forma que você acha correto. Por isso o abuso de substâncias que provocam ereção (sem uma necessidade clínica real) tem alcançado níveis preocupantes. É uma educação sexual praticamente nula, combinada com expectativas irreais e o resultado é daí em diante. Portando se algo te incomoda na sua sexualidade, se sente que tem algo que poderia ser melhor, se seu pênis não tem te atendido dentre outras questões, busque ajuda o quanto antes.

Infelizmente os homens que chegam no meu consultório em sua maioria, chegam lá como última opção, já cansados e com o ciclo de resposta sexual e e estado emocional extremamente abalados. Geralmente com muitas questões das tentativas de solucionar bem como frustrações para lidar, tornando o tratamento mais longo do que se tivessem ido mais cedo. Não os culpo, a cultura e o nosso cenário em nada contribuem. Porém se você se identificou com esse texto, independentemente de como está o seu quadro ou do seu parceiro, busque ajuda. Existe vida sexual saudável! É possível. Combinados?

Muito obrigada pela leitura e até o próximo texto!

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