Abstinência sexual: prevenção ou mecanismo de controle?
Abstinência sexual: prevenção ou mecanismo de controle?
Foi e ainda é pauta de muita discussão a questão nomeada como “abstinência sexual” como estratégia adotada pelo novo governo no campo da educação sexual. E eu claro, como profissional da área já comecei torcendo o nariz. Porém tenho uma difícil missão de te explicar todo meu ponto de vista neste singelo texto. Vou tentar.
Primeiro ponto que ligou minha antena foi o seguinte: se fosse realmente levado ao pé da letra, a campanha estaria incentivando os jovens a literalmente a se absterem de fazer sexo. E a fábula infeliz utilizada pela ministra que está à frente dessa ideia brilhante, foi que a alma da gente é igual fita adesiva, se colar e descolar de muita gente ela acaba “ficando larga” (?) e não colando com mais ninguém. Bom, fita adesiva não fica larga e existem pessoas que precisam sim errar para encontrar e estar pronto para estar emocionalmente envolvido por alguém, isso sem partir do pressuposto de: quem disse que precisamos ter um relacionamento monogâmico para nos mantermos saudáveis? Não pode ser feliz solteiro mais? E se abster de algo fisiológico, como comer, dormir e respirar é muito perigoso. Isso em nome do quê?
Após muitos questionamentos, a ministra “explicou melhor” o discurso e passou a dizer que iria apenas complementar a educação sexual, que a campanha de uso da camisinha, dos contraceptivos iria continuar etc., e o resto quem acompanha as notícias sabe o que está acontecendo.
Então como profissional da saúde devo ponderar e considerar que o governo possa estar cometendo uma falha de comunicação então. A ideia é apenas agregar e melhorar a vida sexual dos jovens prevenindo gravidez precoce e ISTs. Será mesmo? Cabe o benefício da dúvida? Cenas dos próximos episódios infelizmente.
Agora preciso lançar um olhar crítico real para essa situação, por mil razões. A primeira é que se abster de algo que é da sua natureza NUNCA vai ser saudável. O que devemos ter é consciência de quem somos e o que queremos para nós mesmos e isso não é papel do governo, isso é papel do indivíduo, afinal nascemos livres. Outra questão muito séria também é que ao utilizar termos como “larga” ou “colar com alguém” só faz perpetuar a cultura do estupro e do machismo. Mas atenção aqui, mulher não fica larga e nem rodada, ok? O que fica largo é apenas o elástico daquela bermuda velha que você insiste em usar e rodada é a kombi que te levou para a escola nos anos 90. Corpo humano se adapta, a mente expande e nós devemos evoluir.
Voltando. Outro ponto que é um pouco mais pesado é a questão de o governo estar utilizando o seu poder para influenciar no estilo de vida sexual das pessoas. E o que me faz ter essa teoria da conspiração? Simples. Não é de hoje que governos, monarquias, lideranças e afins se utilizam do sexo para mecanismo de controle da população. Não quero estender esse texto, então se te despertou interesse, pesquise sobre a história do sexo, você vai ficar de boca aberta de como esse “truque” é antigo.
E o maior dos maiores problemas dessa prática a meu ver, é o sofrimento da população envolvida. E não estou tirando da minha mente, a história está aí para provar. E sabe qual a maior parcela da população que sofre? Adivinha! A que detiver menos conhecimento, a que depender do governo para se informar. Infelizmente, a mais pobre. Quanto mais colocamos o sexo no pedestal do tabu, do proibido, do pecaminoso, mais abrimos precedentes para abusos sexuais, afinal as vítimas sempre se culpam e se envergonham. Isso sem contar com os problemas sexuais na vida adulta. Não é possível ensinar a uma mente a juventude inteira que algo é errado e na hora que quisermos aquilo ali passar a ser algo bom, para alguns (principalmente as mulheres) se tornar uma obrigação. Isso é incoerente e a mente humana não funciona assim.
São bem numerosos os problemas nessa estratégia sem base teórica clara, e espero que os educadores sexuais pelo brasil afora consigam passar para os nossos jovens que tudo bem serem eles mesmos. Que tudo bem querer ou não fazer sexo e que ninguém tem nada com isso. O importante é saber se prevenir e ter a informação correta, senão daqui a pouco estamos contando as crianças que os bebês vêm da cegonha como estratégia de prevenção e os abusos sexuais vão ganhar mais força ainda. Gravidez e Infecções Sexualmente transmissíveis se previnem com diálogo, com conhecimento do corpo e muita (e não uma ou outra) aula de sexualidade e saúde emocional.
Informação sim! Alienação e controle de corpos não!
Aproveita e assiste o programa K entre nós sobre o assunto:
Psicóloga (crp 16/4664) da linha cognitiva comportamental com um pézinho nas contextuais de terceira geração e Sexóloga. Atua em consultório (individual e casal), atendimentos online, cursos, palestras e eventos.
Tags:abstinencia sexual, educação sexual, prevenção gravidez