20 maio

O que o parceiro de uma pessoa que foi vítima de abuso sexual precisa saber

***Atenção – contém gatilhos!***

Dia 18 de maio é o dia nacional referência no combate ao abuso e exploração sexual infantil. Dia infelizmente inspirado no caso Araceli, uma marca que o estado do Espírito Santo carrega com a maior dor e vergonha por parte dos capixabas, afinal o caso foi arquivado. (Procure mais na internet posteriormente).

Falo bastante nas minhas redes sociais sobre educação sexual e sua importância na prevenção ao abuso bem como nosso papel como adultos em uma sociedade ainda tão violenta e inconsequente com o sexo e com as crianças.

Uma questão bem séria sobre os números da violência é que as crianças que são abusadas, quando não são mortas, crescem com um estigma sexual extremamente confuso e lhes é “exigido” uma “vida adulta normal”, afinal foi na infância e já passou.

Sobre o que é ou não abuso

Poucas vítimas têm acesso à um psicólogo para um tratamento emocional a altura, e o mais intrigante é que muitos sequer compreendem que o que sofreram foi abuso sexual.

Vou te dar um exemplo: um menino de 8 anos de idade que recebeu sexo oral de uma mulher de 35 e não é considerado abuso por parte dele mesmo, afinal ele gostou. Admitir o abuso põe em xeque muitas questões sociais. Ou uma menina de 12 anos que teve os genitais apalpados por um prestador de serviço e desmentida por ele, afinal ela estava com roupas “indecentes” e não pode falar nada, afinal ele “só olhou”.

Que fique claro de uma vez por todas. Qualquer ato sexual (inclusive olhares) a uma criança é abuso! Ela querendo, pedindo, gostando ou não. A lei é clara ao solicitar maioridade justamente para dar uma margem de segurança aos envolvidos, não importa se é uma criança sexualizada, adultilizada. O abusador é sempre o culpado! Tem hora para tudo, inclusive para sexo. Esse é um ponto extremamente detalhado, então não vou me delongar.

Você pode estar cometendo abuso sem saber

Há quem não dê importância e naturalize alguns abusos, ou até quem cometa sem saber. Vou te dar dois exemplos:

Fazer sexo com um bebê dentro do quarto (mesmo com ele dormindo). Quando dormimos não estamos mortos, e nossa mente capta tudo que ocorre neste meio tempo. Adultos fazendo sexo soa como uma violência na mente de uma criança.

Deixar a criança ter contato com pornografia, cenas ou nudez eróticas. Mesmo que sem querer. A ideia da educação sexual é naturalizar o tema, e não expor a criança para algo que ela não está pronta. Ao educarmos sexualmente, o contato com sexo vai sendo de forma gradual, natural e consequentemente prazerosa. A exposição também configura violência.

Existem vários outros nesse mesmo sentido. Caso deseje mais informações, me mande uma mensagem que aprofundo o tema.

As consequências do Abuso

O fato é que todo abuso infantil deixa uma marca emocional para o resto da vida. Porém, a forma que isso se manifesta depende da dinâmica daquela mente combinado com a forma que o trauma foi vivenciado. Uma análise de base na terapia sexual é o contexto sexual inicial da pessoa e em muitos casos de disfunções sexuais existe a presença de elementos de abuso.

Alguns apresentam disfunções sexuais, outros problemas em comunicar-se efetivamente com o outros (o  que as vezes reflete na qualidade sexual), outros apresentam aversão ou baixo interesse pelo sexo e tem quem possua hiper sexualização.  Há quem viva uma vida sexual saudável, mas com problemas relacionados a filhos, confiança em terceiros etc. Não há um padrão. O único fato é que lidar e viver com a marca de um abuso sexual não é tarefa das mais simples.

Sexo é carregado de tabu, e do tabu vem a vergonha. É um assunto tão “pesado” que a vítima automaticamente se envergonha e acaba tentando fingir que não aconteceu, fingir que aquilo não foi nada a fim de não lidar com aquilo nunca mais.

E quem se relaciona com alguém que foi vítima, como fica?

Se você está se relacionando com alguém vítima de abuso, provavelmente deve ter detectado alguma resistência ou questão que essa pessoa está lutando contra no momento. Como eu disse, existem pessoas que recebem o tratamento emocional adequado e conseguem viver a vida tranquilamente. Mas isso é uma minoria.

Geralmente a pessoa que sofreu abuso é mais fechada em algumas questões e tem dificuldades em confiar. Questões sexuais as vezes são equivalentes a uma tortura e o diálogo simplesmente não flui. E você provavelmente já se perguntou se isso tudo vale a pena.

Se vale a pena ou não, só você mesmo para responder. Mas o que posso lhe assegurar é que você por si só não vai fazer milagre na vida da pessoa.

Você não vai curar nenhum trauma. Agora se a pessoa recebe tratamento emocional, é possível você ser um ponto de apoio e compreensão no que lhe couber. Na terapia sexual eu costumo convidar a parceria dos meus pacientes (respeitando o desejo deles) e consigo deixar bem claro o papel de cada um nesse processo de reconstrução.

Quando existe um cenário de respeito e esforço de ambas as partes, os resultados são sempre satisfatórios. Exige esforço da parceria? Muito. Compreensão? Bastante. Mas lembre-se, seja um ponto de apoio, um ombro, uma mão, um carinho, jamais assuma toda a responsabilidade para si mesmo e nem tente lidar com algo tão delicado sem ajuda profissional. Caso contrário, ambos podem sair da relação mais machucados do que entraram. Mente humana não é auto curável, precisa de atenção como qualquer outra área do corpo.

Neste vídeo eu falo um pouco mais sobre o assunto.

Espero ter ajudado, e qualquer dúvida adicional me mande uma mensagem! Vou ficar feliz em interagir e você vai receber a informação correta.

Muito Obrigada.

Marcelle Paganini

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