17 junho

Sobre o filme 365 DNI (netflix) – A humanidade está sexualmente doente?

O filme recém lançado na Netflix chamado 365 DNI (ou 365 dias) causou um alvoroço na internet por conta do seu forte apelo sexual, principalmente na exaltação da beleza do ator principal. E se você foi uma das pessoas que se derreteram pelo filme, quero te trazer algumas reflexões a respeito de saúde sexual.

Vou passar rapidamente sobre o assunto violência. Você já deve ter lido muitas críticas sobre esse aspecto e o argumento é sempre no sentido de que é um filme, é apenas fantasia não é real etc. etc.

Acontece que, se um pano de fundo violento te excita, infelizmente você é uma das vítimas da nossa cultura do estupro. Calma, vou me explicar.

A sociedade naturalizou tanto a violência, que para a maioria das pessoas, tudo bem um abuso em um contexto sexual, isso não afeta o que há “de bom” que é o prazer.

Vou te explicar uma coisa muito séria, mas me deixa dar um exemplo sobre psicologia comportamental primeiro.

Psicologia Comportamental

Pavlov (um estudioso do comportamento) fez um experimento com cachorros, que na presença de comida salivavam (até aí tudo bem marcelle, a gente saliva com comida também). Daí ele adicionou uma campainha antes da comida por um tempo, até que tcharam, a salivação estava presente sempre que a campainha soava, inclusive antes de comida chegar, inclusive sem a comida chegar as vezes! O nome disso é associação. Marcelle mas eu não sou cachorro não! Mas funcionamos da mesma forma.

Isso é comportamento. A campainha sexual no caso do filme é a violência, a nossa salivação é o tesão e a comida são as cenas de sexo (um exemplo tosco para resumir apenas). Cenas de sexo por si só já seriam estímulos suficientes para elucidar um desejo sexual, mas acontece que a maioria das pessoas associou sexo a violência. A humanidade naturalizou isso. E isso explica um pouco o sucesso do filme.

Um tapinha não doí?

Quem nunca ouviu a respeito do menino que bate na menina porque gosta dela? Ou coisas do tipo: te amo tanto que você me faz perder a cabeça, te tratei mal, mas foi na hora da raiva. Um abraço um beijo um sexo e fica tudo bem.

Não, não está tudo bem. Violência é fator de adoecimento, não é saudável. Não está tudo bem ficar excitado com uma história que a pessoa foi sequestrada, amarrada contra a vontade, cheia de elementos da síndrome de Estocolmo (dá um google depois), quase morta por drogas, com a vida e a liberdade revirada e comprada dentre outros abusos esdrúxulos. Ai, mas é fantasia marcelle, para de ser chata.

Isola as cenas de sexo do filme, sem o enredo violento. Vai dar um filme pornô mal escrito, mal gravado e sem nexo. Provavelmente muita gente sequer vai se excitar com elas.

Vou te desafiar a jantar fantasiando, imaginando que está em um depósito de lixo, cheio de carne podre e larvas, moscas voando e muita gente defecando e vomitando ao seu lado. Não vai ser bom, não vai dar prazer, lixo é associado a nojo, a doença. E porque ainda naturalizamos, romantizamos e “salivamos” com violência? Simples, foi ensinado!

Talvez seja por isso que tanta gente ainda se mete em relacionamento abusivo, por isso que muita gente não consegue ter desejo sexual por pessoas boas. Nossa base sexual está toda errada.

Reavalie o que te excita

E se o que estou te falando está fazendo algum sentido para você, fico feliz. Reavaliar e mudar um pouco nossa forma de ver o sexo é libertador. Comece por aí. Não reproduza mais as coisas cegamente. Analise o que te excita, pense racionalmente.

Não estou condenando fantasias sexuais, elas são super saudáveis. Mas fantasiar com algo tão pesado como violência psicológica e atentado à liberdade é uma coisa muito séria, sabe por que? Um estímulo puxa outro também por associações, e a quantidade de estímulos adjacentes através de apenas um é imensa. É uma progressão geométrica. Uma violência puxa outra, que puxa a outra que puxa um outro fator e por aí vai. E sabe-se lá onde a mente pode te levar (e honestamente precisaria de mais um texto para te explicar isso melhor).

Portanto, comece questionando a base das suas excitações. Não se permita naturalizar o bizarro, o errado, o adoecedor. Não pense que é apenas um fator isolado porque não é. Nosso emocional é todo ramificado e não trabalha bem com incoerências. Enfim, permita-se excitar com coisas melhores, como o sabor da comida, o cheiro da comida, a cor da comida. Não deixe campainhas intrusas adentrarem a sua sexualidade.

Obviamente que pode não ser fácil o caminho de desconstrução dessa questão, mas garanto que é muito mais fácil do que lidar com os possíveis efeitos colaterais, que vão desde insatisfação sexual até parafilias. E claro, que você sempre pode contar com um psicólogo sexólogo para te ajudar em questões mais sérias e complexas.

Mas por favor, repense. Se não for por você, que seja pelas futuras gerações pelo menos. A saúde mental coletiva agradece.

Até o próximo texto!

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