8 julho

Texto publicado no dia 03 de Julho de 2020 no Jornal Atribuna (ES).

É significativo o aumento de casos de violência doméstica durante o isolamento social. Mas, infelizmente, a pandemia apenas traz à tona questões já presentes. É num momento de excesso ou modificação radical da rotina que muitos relacionamentos abusivos têm os seus sintomas exacerbados. Para muitas pessoas, a falta do convívio social as deixa mais vulneráveis ao abusador, que, combinado ao momento tenso e cheio de incertezas, se torna gradativamente mais violento.

Aliás, a característica principal de um relacionamento abusivo é a violência. E não só física, mas também psicológica, emocional, verbal, sexual, financeira e/ou até tecnológica.

Um exemplo de violência psicológica é fazer a pessoa acreditar de alguma forma de que é incapaz de algo. Outro exemplo é limitar ou impedir o acesso da pessoa a recursos. No fim das contas, todo tipo de violência tem por objetivo final minar a individualidade da vítima e torná-la cada vez mais dependente do abusador.

Tal dependência é criada de forma tão gradativa, que a maioria das vítimas sequer consegue se perceber como tal. Geralmente pessoas externas conseguem ter uma percepção mais rápida e até sugerir algum tipo de ajuda, o que com o isolamento se tornou mais difícil.

O ciclo do relacionamento abusivo é geralmente o mesmo em todas as relações. Inicia-se o relacionamento de forma romântica, com boas expectativas e bons momentos. Ao longo do tempo, são solicitadas concessões, como alteração de rotina, gostos pessoais, amizades, e etc., mas a vítima acaba não levando tão a sério essas pequenas invasões a sua individualidade.

Todavia, mais e mais concessões são implementadas, microdependências são criadas e os abusos começam a ficar nítidos para pessoas de fora. Nesse meio tempo, a vítima percebe-se dependente e as pequenas invasões se tornam verdadeiras violências, que também costumam acontecer em ciclos.

A pessoa abusiva tem a explosão, toma alguma atitude violenta e pouco depois “se arrepende”. Após a remissão, tem a fase chamada de “lua de mel”, em que o relacionamento fica artificialmente saudável. Mas aos poucos as pequenas violências voltam a ocorrer até a próxima explosão, geralmente maior e mais nociva.

Parece clichê, mas é muito importante se conhecer, ter bem claro para si os seus valores e não abrir mão deles por nada e ninguém. Por mais que bons momentos tenham seu valor, não valem abrir mão da liberdade, seja ela qual for. Outra questão importante é estar atento ao que a pessoa fala e faz com outras pessoas conhecidas no início do relacionamento.

Para a pessoa que se percebe em uma relação abusiva e não consegue sair, o mais indicado é pedir ajuda. Caso não seja possível, outra opção um pouco mais lenta é trabalhar a autonomia para se desvencilhar da dependência – isso para casos onde a vida ainda não corre risco. Para casos de risco, não há o que refletir. Deve-se denunciar. E sendo pertinente até se abster da presença do abusador sem conversas prévias. Peça ajuda a vizinhos, familiares, mas não permaneça no ciclo da violência.

Segue o vídeo sobre o assunto:

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