Será que as borboletas no estômago estão morrendo?
Aquele frio na barriga a cada mensagem, as borboletas no estômago a cada beijo… O início de um relacionamento é sempre muito apreciado.
Um boom de dopamina pelo que aquele relacionamento poderá ser, explica bem o misto de sensações que temos ao começar a se relacionar com alguém apaixonadamente.
O senso comum prega que isso é só no começo mas os casais apaixonados insistem que vai ser para a vida toda. O fato é que esse frenesi todo reduz ao longo do tempo pois, com a convivência, as coisas vão se tornando menos “emocionantes” e mais racionais.
Mas o que faz alguns casais continuarem juntos e se declararem apaixonados e outros seguirem rumos separadamente? Será que alguns casais matam as borboletas do estômago?
Na verdade, um erro comum é apostar nas borboletas para medir uma coisa que não é mensurável através delas. O que chamamos de borboletinhas, nada mais é do que um mecanismo da natureza para juntar duas pessoas (mesmo cientificamente ainda não sendo um consenso do como e do porquê disso acontecer) . Do mesmo jeito que uma semente cai no chão e vira outra planta, a paixão faz dois seres humanos quererem copular. Isso falando de mecanismo da natureza e não de questões sociais que salpicamos ao longo do tempo. Isso é assunto para outro papo.
O que sabemos é que os efeitos de algumas paixões são análogos a vícios ou até intoxicação, então, é esperado que as borboletas parem de bater asas feito umas desvairadas ao longo do relacionamento. Elas amadurecem e começam a ficar contentes e seguras. Em uma relação saudável chamamos de amor, mas pode ter o nome que o casal preferir, vou chamar de amor para simplificar a compreensão do texto.
Saber compreender que a quietude das borboletas, requer maturidade
Saber compreender que a quietude das borboletas, ou seja, a ausência daquele sentimento do início, requer maturidade e, não necessariamente, significa uma falta de amor. Se a pessoa não for emocionalmente saudável ela pode estar diante do que comumente chamamos de “amor da sua vida”, mas não vai conseguir seguir após a intoxicação da paixão passar. Simplesmente por estar com foco em algo que é uma fase.
Não quer dizer que uma relação madura e amorosa é chata e sem tesão. Longe disso. Mas ela se torna uma construção mútua e não mais um simples sentir e viver provocado pela nossa natureza. Aí entra a nossa inteligência, valores e tudo mais que acreditamos.
Uma armadilha comum das borboletas é fazer a gente acreditar que estamos diante da pessoa que vai ser aquela que esperamos que seja e quando elas se acalmam, não era nada daquilo. É por isso que muitos se tornam prisioneiros do passado ou até de uma ilusão criada por eles mesmos (parafraseando Marília Mendonça: me apaixonei pelo que eu inventei de você).
Falo a todos meus pacientes: relacionamento é para os fortes. Devemos curtir e saborear a temporada das borboletas no estômago e depois que ela passar, devemos ter maturidade e sensatez para enxergar a pessoa que está ali conosco. Sermos honestos a ponto de saber se é válido ou não seguir aquele caminho. Temos borboletas amadurecidas ou elas foram apenas brincalhonas com a gente?
Só com saúde e preparo emocional para sabermos. Portanto, cuide da sua mente antes de querer trocar borboletas por aí.
Um abraço!
Referências:
Bento, V.E. (2006). Toxin and addiction compared to passion and toxicomania: etymology and psychoanalysis. – https://doi.org/10.1590/S0103-65642006000100011
Buss, D.B. (1994). The evolution of desire: Strategies of human mating. New York: Basic Books.
Buss, D. M. (2000). Os perigos da paixão: Por que o ciúme é tão necessário quanto o amor e o sexo. (M. Campello, Trad.) Rio de Janeiro: Objetiva.
Meyer, M. (1994). O filósofo e as paixões. Esboço de uma história da natureza humana . Porto, Portugal: Asa.
Psicóloga (crp 16/4664) da linha cognitiva comportamental com um pézinho nas contextuais de terceira geração e Sexóloga. Atua em consultório (individual e casal), atendimentos online, cursos, palestras e eventos.
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